A visita de Katerina a Prudentópolis destacou a preservação da cultura ucraniana e a importância da união da comunidade em torno de suas tradições e da causa da Ucrânia
Foto: Irene K
Katerina Dokuchaeva, natural de Uzhhorod, na região de Zakarpattia, na Ucrânia, visitou recentemente Prudentópolis, no Paraná, conhecida como a “Pequena Ucrânia” devido à forte presença de descendentes ucranianos. Residente no Brasil há mais de 25 anos, Katerina se destaca como ativista e gestora da comunidade online Slava Ukraine, que reúne ucranianos em São Paulo e promove ações de apoio à Ucrânia.
Nascida em Uzhhorod, ela imigrou para o Brasil aos 15 anos quando seu pai foi chamado para trabalhar na USP. Apesar da distância, mantém laços estreitos com familiares e amigos na Ucrânia, que enfrentam os impactos da guerra, incluindo alertas constantes de sirenes e a chegada de refugiados do leste do país. Sobre sua adaptação ao Brasil, Katerina lembra que quando chegou em São Paulo não falava português ou inglês e que havia poucos ucranianos na cidade onde morava. Ainda assim, foi acolhida pelos brasileiros, especialmente na escola, onde professores e colegas a ajudaram. “Fomos sempre muito bem recebidos. Minha melhor amiga, Lilian, do colegial até hoje é minha amiga, ela fez questão de ir conhecer a Ucrânia. Nos adaptamos muito bem as oportunidades que o país trouxe para mim e minha família.”, contou.
Katerina e sua melhor amiga Lilian
A visita a Prudentópolis foi motivada pelo desejo de conhecer de perto a comunidade ucraniana do Paraná, especialmente após a guerra. “Quando fiquei sabendo sobre Prudentópolis, quis visitar. A cidade recebeu refugiados e ainda se falava ucraniano, o que despertou minha vontade de conhecer. Saber que pessoas que eu conheço estavam na cidade foi um impulsionador para vir”, disse. Ela explicou que a aproximação entre a comunidade ucraniana de São Paulo e a do Paraná cresceu nos últimos anos, fortalecendo laços e ações em conjunto, inclusive com organizações como o Humanitas e por pessoas como Julia Bordun e Deborah Sedor.
Ao chegar à cidade, Katerina se surpreendeu com a preservação da cultura ucraniana em todos os detalhes. “Achei que veria Pêssankas e outros elementos culturais em pontos específicos, mas vi a Ucrânia em todos os lugares: lojas, praças, na prefeitura, em estátuas. Foi emocionante e não tinha ideia da dimensão”, relatou. Ela percebeu semelhanças entre as tradições locais e as que vivia na Ucrânia, principalmente na religião, culinária e folclore. Participou de missas em ucraniano, almoçou pratos e acompanhou ensaios de dança ucraniana com o Grupo Folclórico Ucraniano Brasileiro Vesselka, experiências que reforçaram suas memórias e vínculos culturais.
Katerina também destacou a resiliência da comunidade ucraniana em Prudentópolis, lembrando a história dos imigrantes que chegaram ao Brasil enfrentando dificuldades, mas construíram cidades, igrejas e instituições. “É muito emocionante ver que, mesmo após quatro ou cinco gerações, a língua e a cultura se mantêm vivas. A bandeira, os bordados, as estátuas de Taras Shevchenko… tudo isso mostra a força e a resistência do povo ucraniano”, disse.
Além da vivência cultural, Katerina compartilhou seu engajamento em prol da Ucrânia. Em 2013, ela e outras ucranianas organizaram uma Maidan Brasileira na Avenida Paulista, em 2022 após a invasão voltou a organizar com sua mãe, Nadija Dokuchaeva, manifestações recorrentes em São Paulo para conscientizar a população brasileira sobre a guerra, exibindo fotos, cartazes e dados históricos, mostrando desde as invasões russas até o impacto sobre crianças e civis. O objetivo dessas ações é transmitir a verdade sobre a situação do país e reforçar que os ucranianos não estão sozinhos. Inicialmente, a participação da comunidade ucraniana era baixa, mas o apoio de brasileiros e de entidades como a Embaixada da Ucrânia no Brasil foi essencial. “É importante para nós ucranianos não nos sentirmos sozinhos e mostrar a verdade da situação”, afirmou. Ela acrescentou que os eventos são diferentes das manifestações comuns, incluindo cartazes com fatos históricos, fotos, dados sobre crianças sequestradas, número de pessoas mortas e datas importantes, permitindo que o público veja a realidade da guerra. “Temos visto um resultado muito positivo. O apoio dos brasileiros, de políticos como Eduardo Jorge, do Cônsul Honorário da Ucrânia Jorge Rybka e sua esposa, e da própria Embaixada da Ucrânia no Brasil é muito importante e nos fortalece”, completou.
Foto: Sergio Koei
Nadija Dokuchaeva, Katerina Dokuchaeva, Veronika Dokuchaeva e Mikhailo Dokuchaev em uma manifestação (Foto: Pedro Fratino)
No dia a dia, mantém viva a cultura ucraniana em sua família, falando a língua, preparando pratos típicos e consumindo músicas e filmes do país. Ela também reforçou a importância da solidariedade internacional. “A Ucrânia precisa de todos nós. Nem sempre a ajuda precisa ser financeira, mas se estivermos ali para presta solidariedade também é importante. Juntos somos mais fortes”, concluiu.
A visita de Katerina a Prudentópolis evidencia não apenas a preservação da cultura ucraniana no Brasil, mas também a importância da união da comunidade em torno de suas tradições e da causa ucraniana.